02/05/2008 - 12h05
Por Fernanda Barreto, para a revista Fórum
Moradores da região Bacia do Arbiri, em Vila Velha (ES), terão uma nova
opção para acessar crédito e contribuir para o desenvolvimento local.
No dia 8 de maio, às 15 horas, será inaugurado o Banco Comunitário
Verde Vida, na Nossa Casa Senhora de Lourdes, bairro Ataíde.
Voltada para a geração de renda e sustentabilidade ambiental, a
instituição contará com uma moeda social, denominada Verde. As cédulas
serão adquiridas mediante a troca de materiais recicláveis no posto de
coleta instalado na sede do Banco. Lá, também funcionará um
supermercado solidário. "As pessoas poderão trocar garrafas Pet pela
moeda local e utilizá-la para fazer compras no supermercado", explica
Renata Santiago Lima, assistente social da Ong Movimento Vida Nova Vila
Velha (Movive), parceira da iniciativa.
Serão aceitos plásticos, papéis, óleo de cozinha, metais e vidro. De
acordo com a tabela do Banco, cada quilo de alumínio (70 latinhas), por
exemplo, poderá ser trocado por V$ 3,00. Com esse dinheiro, será
possível encher o carrinho com produtos como arroz (V$ 1,00), farinha
de mandioca (V$ 0,50), sabonete (V$ 0,50), pacote de biscoito (V$ 0,50)
e uma lata de polpa de tomate (V$ 0,50). Materiais informativos sobre
como separar o lixo e prepará-lo para troca já estão sendo distribuídos
na comunidade.
Geração de renda e compromisso ambiental
Além da moeda social, o Banco fará empréstimos em Real para fortalecer
empreendimentos de tecnologias limpas e projetos sócio-ambientais. É o
caso de costureiras que reutilizam retalhos, artesãos que usam o lixo
como matéria-prima ou um estabelecimento comercial que queira instalar
fossa séptica. “Para acessar financiamentos, os grupos produtivos terão
que se comprometer com questões como a redução do consumo de energia
elétrica e a reciclagem”, ressalta Lima.
Segundo ela, projetos que tragam benefícios para a sociedade também
poderão ser contemplados, sem a necessidade de devolver os recursos em
espécie para o Banco. “Às vezes um grupo quer oferecer uma oficina
sobre cuidados com o meio ambiente numa escola e esse é um tipo de
atividade que não traz retornos financeiros, mas traz melhorias para a
coletividade”, avalia. Os empréstimos em moeda oficial terão taxa de
juros de 0,8% ao mês.
Sensibilizar os comerciantes locais a aceitar a moeda Verde é outra
estratégia assumida pela comunidade. “Estamos fazendo reuniões nas
igrejas e escolas para que mais pessoas participem”, conta João Manoel
Santos, agente do Projeto Brasil Local. O objetivo da moeda social é
estimular o consumo de bens e serviços produzidos no local,
movimentando a economia da região.
Morador do bairro há 35 anos, Santos está empenhado na implantação do
Banco e otimista quanto aos resultados que a instituição trará para a
sua comunidade. “A criação do banco já vem sendo discutida há um ano.
Não é uma coisa que nasceu de uma hora para outra. Fizemos várias
assembléias e visitamos outros bancos comunitários pelo país para
conhecer a experiência. É uma ação que tem tudo para dar certo”,
sustenta Santos.
Para ele, além de possibilitar acesso a crédito para a população
excluída pelas exigências dos bancos tradicionais, o Verde Vida vai
estimular o cuidado com o meio ambiente. “Eu criei meus filhos e tenho
neto aqui. Onde antes era um rio, hoje tem um valão entupido de lixo.
Agora vamos aprender que somos responsáveis por mudar essa realidade.”
Controle Social
A gestão do banco ficará a cargo do Fórum Permanente da Bacia do
Arbiri, instituído em 2004 com o objetivo de implementar estratégias
para o desenvolvimento da região. Integram o Fórum entidades do poder
público, privado e da sociedade civil.
Abrangência
Todas as comunidades atendidas pelo Verde Vida devem participar do
Fórum por no mínimo seis meses. Os bairros incorporados ao Fórum
atualmente são Dom João Batista, Cavalieri, Ataíde, Aribiri, Santa
Rita, Planalto, Alecrim, Vila Garrido, Primeiro de Maio, Ilha das
Flores, Vila Batista, Paul, Atalaia e Capuaba.
Expansão da Rede O Verde Vida é a 17º instituição financeira a fazer
parte da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, que utiliza a
metodologia do Instituto Palmas – baseada na participação popular e no
desenvolvimento integrado do território. Outros dois bancos (Bem e
Terra) do Espírito Santo integram a Rede. As demais instituições estão
situadas na Bahia, Ceará, Maranhão, Mato Grosso do Sul e Piauí. O
pioneiro da Rede é o Banco Palmas , em funcionamento há mais de 10 anos
em Fortaleza.
(Envolverde/Revista Fórum)
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